
Você convive com ele há anos – são, aliás, grandes amigos –, mas nunca deixou de se questionar se ele era gay. Só que até então, o assunto era abordado com ironia – são milhares as piadas e ele é sempre o protagonista. Internamente, porém, você repete o discurso de que independentemente da orientação sexual que ele escolher, a amizade se manterá a mesma, afinal você é um indivíduo sem preconceitos. Até que chega o dia em que seu comparsa decide se assumir: ele é, de fato, homossexual. Como agir em uma situação dessas? Será que sua cabeça era tão aberta quanto você acreditava? Ou tudo aquilo não passava de uma máscara politicamente correta?
Em primeiro lugar, ficar chocado com a revelação não significa que você seja intolerante à ideia de ter um amigo gay. Por mais desconfiado que já pudesse estar, uma manifestação dessas costuma causar certa surpresa no interlocutor. Guarde para si próprio, no entanto, atitudes mais hostis como expressões de nojo ou reprovação. Temos todo o direito de não compartilhar dos mesmos gostos de nossos colegas, mas se ele resolveu abrir o jogo com você é porque o tem como uma pessoa de confiança e por quem cultiva grande estima. Nessa etapa de quebra de tabu, então, o melhor é deixá-lo falar.
Foi o que fizeram o estudante Lúcio*, 23, e sua namorada quando um amigo em comum resolveu assumir a sua homossexualidade. Apesar de já desconfiar, o universitário afirma nunca ter trazido o assunto à tona por se tratar de uma questão muito íntima. “Na noite em que ele resolveu contar tudo, eu lembro que ficamos até altas horas da madrugada conversando. Ouvi o que ele tinha para falar e até sugerimos, eu e minha namorada, de irmos juntos a baladas GLS se isso fosse fazer com que ele se sentisse melhor”, lembra o jovem.
Se você e seu colega forem amigos de verdade não há alternativa, então, além de aceitar o fato e continuar convivendo da maneira como sempre fizeram. Pelo menos é o que pensa a produtora Camila*, 22. “Amigo é para essas coisas. Para entender, apoiar e dar conselhos quando precisar”, ensina a jovem. E ela sabe o que está falando: todos os seus amigos homens são gays. “Pode acreditar”, brinca.
Outra atitude interessante é a de fazer perguntas. Questioná-lo não apenas saciará eventuais dúvidas, como também demonstrará que você está, sim, interessado em suas angústias e que o aceita daquela maneira. Isso não quer dizer que você deva ouvir tudo o que ele tem para falar. Por serem amigos íntimos – e, pode-se dizer, ainda mais confidentes agora – há o direito recíproco de se censurarem caso considerem certas questões – como piadas e detalhes sexuais – ou atitudes ofensivas.
Exemplo raro
Em ambos os casos citados, os jovens deixaram que seus próprios amigos resolvessem se deveriam ou não assumir o homossexualismo. Esses, porém, são exemplos raros – ainda que cada vez menos, é verdade. Há situações nas quais existem apenas as suspeitas já que, por alguma pressão, os enrustidos não se sentem prontos para assumir. Se mesmo assim você quer tirar a dúvida, tenha em mente que a abordagem deve ser muito bem planejada. Deve-se, antes de tudo, questionar o porquê de seu interesse em que seu colega se revele. Por acaso sua amizade vai mudar caso se descubra que ele prefere homens? Vai deixar de ser menos amigo por isso? Se há uma relação verdadeiramente saudável entre ambos, é de se esperar que algum dia ele vá se abrir com você.
Mas você é uma pessoa persistente e não dormirá até descobrir para que lado a faca dele corta, não é mesmo? Fazer com que ele encha a cara de bebida e colocar 'Village People' para tocar não vai adiantar muito. Pode-se, no entanto, pegar essa ideia e, de maneira menos caricata, induzi-lo a situações que o deixarão mais confortável para conversar sobre o assunto. Quem sabe alugar um filme que tenha uma relação gay no enredo ou fazer como Lúcio e combinarem de ir a uma boate GLS? Com uma atmosfera mais propícia, quebra-se o gelo e há maiores chances de ver como ele reage.
Vale ressaltar: é possível que ele responda suas perguntas de maneira negativa e, quem sabe, sinta-se ofendido por duas razões: por não estar à vontade ou, pasme, por não ser gay. Afinal, não é porque ele gosta de revistas de decoração ou é mais delicado em seus atos que ele é necessariamente homossexual. Basear-se em clichês – ainda que por vezes eles se encaixem – já demonstra certo preconceito de sua parte. Portanto, antes de tomar qualquer atitude, lembre-se: suspeitas, erradas ou verdadeiras não devem abalar a relação. O fato de ser seu amigo já é o suficiente.
Algum amigo já confessou a homossexualidade para você? Qual foi sua reação? Comente!
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