quarta-feira, 1 de junho de 2011

transformista



          No dia 25 de maio de 2005 - data em que o maior ícone gay brasileiro completa 62 anos - um grupo de amigos e fãs presenteiam a grande estrela com uma página na internet. No site www.estrelarogeria.com abre-se o espaço para que todos possam conhecer mais a história desse grande talento nacional e internacional.
          Falar da arte do transformismo no Brasil é falar sobre Rogéria. Esta artista representa todas as possibilidades que um espetáculo transformista pode ter. Possuidora de um carisma todo especial, Rogéria tem a qualidade de estrela que a coloca entre as principais figuras de nosso palco. Vaidosa e com tudo em cima, não descuida do visual, além de estar em ótima forma física, parecendo uma verdadeira pin-up.
          Rogéria é uma profissional que conhece seu habitat - o palco - como poucos. Totalmente adaptada a esta caixa mágica, talvez ninguém pise num tablado melhor que ela. Ao acender as luzes dos refletores surge o artista em seu brilho máximo, com todo o encantamento, num misto de perfeita voz com refinada ironia de atriz cômica.
          Dona de uma grande empatia é em Rogéria que temos a amostra do número de platéia, um dos momentos mais difíceis para o artista. Com sua astúcia ferina (no bom sentido) consegue prender a atenção do público sem que se perca o humor e alegria neste tipo de entretenimento. Ver Rogéria em cena cantando ou conversando com o público é ter certeza do que é uma verdadeira show-woman ou quem sabe um show-man, porque em Rogéria não vemos o travesti que apenas se fantasia de mulher e sim um artista que se veste de mulher para mostrar com elegante categoria toda uma arte especial.
          Saber envelhecer no Brasil é uma arte. Poucos conseguem assumir a idade e mostrar ao público brasileiro que talento é como o vinho. Quanto mais velho, melhor é saboreado. Rogéria é como um vinho de uma boa safra, que foi melhorando a cada ano. Hoje cada aparição, seja em boate, teatro ou bares é como degustar a bebida em enorme estado de prazer.
          Atualmente faz espetáculos por todo Brasil onde concilia boa música e excelente humor, sendo freqüentemente aplaudida de pé pelo público. Em seu talk–show gosta de relembrar estórias da sua passagem de maquiador para a Rogéria atual. Comenta: “enquanto maquiava Fernanda Montenegro, Elizete Cardoso, Dalva de Oliveira, Ângela Maria, Linda e Dircinha, Consuelo Leandro, Nair Belo, Sara Montiel, Rita Pavone, Josefhine Bacher e outras, elas ficavam no meu ouvido atazanando que meu lugar não era ali e sim no palco. Foi quando perguntei para Fernanda: como é que eu vou para o palco vestida de mulher? E essa diva respondeu: arte independe de sexo. Se você tem talento vai dar certo, não custa nada tentar. Aí eu fui e aconteceu!”...
          Assim é Rogéria, acima de tudo um ser humano brilhante que merece todo respeito e credibilidade pela sua coragem, sinceridade e dignidade.
          Falar sobre ela é pouco: verdadeiro espetáculo de alegria e satisfação, um brinde a arte, ao ecletismo com classe, à hombridade de Astolfo Barroso Pinto. Viva ao talento e a coragem. Viva Rogéria!
          Com intuito de iniciar aqui um acervo desta maravilhosa artista que faz parte da história de nosso país, contamos com a sua ajuda, com depoimentos, enviando fotos ou fatos que possam ilustrar este site. Caso queira ver seu nome registrado em nossos agradecimentos, favor confirmar dados por escrito.





          Grandes montagens como Gays Girls, Gay Fantasy e Rio Gay, consagram Rogéria um ícone desta arte nos anos 80. Com a parceria de Agildo Ribeiro em “Alta Rotatividade” (1976), passa a ser um dos maiores sucessos de nossos palcos. Ainda no teatro fez Roque Santeiro, (1987) de Bibi Ferreira, também estrelou “Querelle” em 1989 com direção de Fabio Pillar. Em carreira solo percorreu várias cidades do Brasil, com shows entre eles “Adorável Rogéria”, “Rogéria solta”.
          Participa como cantora em “Diva”, “Taí - Carmem Miranda”, “O Tom da Bossa” nos anos 90. No cinema faz parte do elenco de “O Homem que comprou o mundo” em 1966, direção de Eduardo Coutinho, “Gigantes da América” nos anos 70 de Júlio Bressane, recentemente “Copacabana“ de Carla Camurati e “Tudo Azul” entre outros. Na televisão teve participações desde musicais até novelas. Foi estrela de grandes produções brasileiras no exterior.





          ASTOLFO BARROSO PINTO, o menino com jeito delicado e muito brilho nos olhos ensaiava seus primeiros passos ao mesmo tempo em que cantava como gente grande. Nascido em 25 de maio de 1943 em Cantagalo, Norte Fluminense, não demorou muito para que sua estrela começasse a brilhar. Era atração do bairro onde morava com sua família, tendo total apoio de sua mãe, D.Eloá, e seus dois irmãos, todos sem nenhum preconceito em relação ao homossexualismo. Astolfinho, como era chamado, afirma que “se não fosse minha mãe, eu não seria Rogéria”.
          Na juventude, tendo se inspirado em ícones cinematográficos internacionais como Betty Davis, Marilyn Monroe, desde os 10 anos quando morava em Niterói, interpretava personagens como Cleópatra bem como costumava se atirar dos cipós imitando Jane, preferida do Tarzan.
          Sua mãe bordou toda a primeira roupa de baiana para o show inaugural de sua gloriosa carreira que aconteceu no Stop Club em 196X. Na época, já exercia a atividade de maquiador na antiga TV Rio e aos 19 anos embelezava personalidades do mundo artístico como Fernanda Montenegro, Emilinha Borba, Marlene, Elizete Cardoso, Nair Belo, entre outras. Nessa ocasião, a atriz Zélia Hoffman resolve chamá-lo por Rogério, que seria mais “soft”, justificando que Astolfo, nome de batismo, seria muito formal. A consagração do nome artístico veio no concurso de fantasias no Teatro República (RJ) em 1964. Vestida de Dama da Noite, vedete sofisticada do Moulin Rouge (Paris), empatou em primeiro lugar com Susy Wong que estava ricamente vestida. O resultado ocorreu não tanto pelo luxo de sua fantasia, mas pela presença de um talento nato, que a levou a roubar a cena. Foi quando, pela primeira vez, o público aclamou por Rogéria. A partir daí assume de fato a nova personalidade e com humor refinado garante que não tirou o Pinto nem do nome...
Na condição de homossexual consciente, Rogéria enfrentou inúmeros preconceitos de uma sociedade que jogava pra debaixo do tapete tudo o que não fosse convencional.
          O sucesso logo despontou para essa geminiana com ascendente em leão. Primeiro no Internacional Set, posteriormente no Le Girls, o mais importante show de travestis de todos os tempos, passou a ser a grande estrela de Carlos Machado. Autodidata por excelência, inteligência aguçada, astúcia ferina e voz inesquecível, Rogéria arruma as malas rumo a novos desafios: parte para a carreira internacional começando por Moçambique.
Na Espanha nos anos 70 - enquanto participava do espetáculo com sucesso absoluto de público - teve que abandonar o palco devido às leis locais que obrigavam a operação de troca de sexo, prontamente rejeitada por Rogéria. Transferiu-se para a França logo a seguir, sendo o grande destaque do Carrousel de Paris. Nesta fase deixou o cabelo crescer, optou por fazer tratamento hormonal onde a figura feminina definitivamente se instalou.
          Seu retorno ao Brasil foi glorioso, os elogios à sua carreira tornaram-se fatos corriqueiros, tendo recebido varias condecorações, entre eles o Prêmio Mambembe (1979), pelo espetáculo que fez ao lado de Grande Otelo com direção de Aderbal Freire Filho.



Texto: Eliane Pin.

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